quarta-feira, 29 de maio de 2013

Todo o Amor em Nosso Amor se Encerra

Minha moça selvagem, tivemos que recuperar o tempo e caminhar para trás, na distância das nossas vidas, beijo a beijo, retirando de um lugar o que demos sem alegria, descobrindo noutro o caminho secreto que aproximava os teus pés dos meus, e assim tornas a ver na minha boca a planta insatisfeita da tua vida estendendo as raízes para o meu coração que te esperava. E entre as nossas cidades separadas as noites, uma a uma, juntam-se à noite que nos une. Tirando-as do tempo, entregam-nos a luz de cada dia, a sua chama ou o seu repouso, e assim se desenterra na sombra ou na luz nosso tesouro, e assim beijam a vida os nossos beijos: todo o amor em nosso amor se encerra: toda a sede termina em nosso abraço. Aqui estamos agora frente a frente, encontrámo-nos, não perdemos nada. Percorremo-nos lábio a lábio, mil vezes trocámos entre nós a morte e a vida, tudo o que trazíamos quais mortas medalhas atirámo-lo ao fundo do mar, tudo o que aprendemos de nada serviu: começámos de novo, terminámos de novo morte e vida. E aqui sobrevivemos, puros, com a pureza que criámos, mais largos do que a terra que não pôde extraviar-nos, eternos como o fogo que arderá enquanto durar a vida. 





Pablo Neruda, in "Os Versos do Capitão"

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